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Minas precisa de aporte de R$ 100 bi na logística

Enviado em 23 de Setembro, 2011

Fonte: Diário do Comércio

Falta de rodovias adequadas é o maior gargalo do setor no Estado.
LUCIANE LISBOA.

Embora a presidente Dilma Rousseff tenha anunciado recentemente que a duplicação da BR-381 e as obras de modernização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte irão sair do papel ainda este ano, tais investimentos não vão, nem de longe, solucionar o "enorme" gargalo logístico enfrentado pelo Estado.

A análise é do coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende. Na opinião dele, Minas enfrenta forte crise por falta de infraestrutura rodoviária, o que tem minado sua competitividade frente a outros estados e causado fuga de investimentos.

Responsável por um estudo da FDC que avalia a retomada dos investimentos no país no pós-crise, o professor afirmou que o Brasil precisaria de investimentos da ordem de R$ 500 bilhões nos próximos dez anos para reverter o quadro negativo no setor de transporte de cargas e passageiros. E Minas Gerais teria direito a 20% desse total.

"Se Minas Gerais tivesse sua fatia calculada pela sua representatividade logística no país, teríamos que receber no mínimo R$ 100 bilhões", afirma.

Resende explicou que a maior parte dos investimentos em Minas Gerais teriam que ser destinados às rodovias, já que 80% de tudo o que é transportado pelas estradas brasileiras passa pelos corredores federais e 60% deles cruzam o Estado. "Temos cinco rodovias federais de extrema importância para o país: as BRs 101, 116, 381, 040 e 262. E estamos em primeiro lugar no quesito rodovias ruins", disse.

Apesar das promessas do governo federal, que incluem investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em alguns desses corredores logísticos,
Resende avalia que essas iniciativas não significam avanços, e o "Estado vai continuar mal servido de rodovias, perdendo cada vez mais competitividade".

Questão política - Na opinião dele, Minas precisa de um grande programa de concessão de rodovias, nos moldes do que já foi feito em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Acontece que aqui existe um dilema sem solução", diz, referindo-se ao fato de a maior parte da malha viária de Minas ser federal, o que gera um impasse junto ao governo estadual, já que tratam-se de grupos políticos opositores.

Ao longo dos últimos 20 anos, o problema das rodovias se tornou uma questão política, disse. "O impasse é que se houver um grande programa de investimentos os méritos irão para o governo federal. Sendo assim, o Estado quer transferir para si a responsabilidade das rodovias e passá-las para a iniciativa privada, mas se isso acontecer, o mérito muda de lado. Aí ninguém se entende, e só nos resta comemorar o fato de possuirmos a BR-381, cujo trecho
entre Belo Horizonte e Governador Valadares detém o título de estrada que maismata no Brasil", ironizou.

Quanto à perda de competitividade, o especialista da FDC ressalta que isso fica evidente ao comparar a forte atração que a infraestrutura exerce sobre o Sul de Minas - um bom exemplo é Extrema, município que fica próximo à fronteira com São Paulo e é um dos campeões de investimentos no Estado em decorrência, principalmente, da logística favorável.

Para Resende, falta indignação política e da população para começar a reverter esse quadro. "Os nossos representantes são passivos diante dessa situação e nós também não estamos fazendo nada", avalia.

Minas Gerais, conforme o especialista da FDC, não ocupa o lugar de "Estado logístico brasileiro" que dlhe caberia, o que tem prejudicado a indústria de alto valor agregado e contribuído para que continue sendo apenas fornecedora de matérias-primas.

"Estamos muito aquém da necessidade logística, e a infraestrutura tem forte demanda reprimida. E continuo afirmando o que disse há dois anos: o PAC é um programa de reposição do crescimento, já que qualquer investimento feito hoje no Brasil já é inaugurado com a capacidade defasada. Não estamos evoluindo. Para isso, é preciso planejamento de longo prazo", observou.