Um grupo de caminhoneiros está anunciando greve no setor a partir da próxima segunda-feira, dia 09. A promessa de paralisação é fomentada, principalmente, por mensagens em redes sociais. No entanto, existem fortes indícios de que a greve será esvaziada por uma rachadura dentro do próprio setor.
O representante dos caminhoneiros autônomos da região sudoeste do Paraná, Gilberto Gomes da Silva, declarou em entrevista à Onda Sul FM nesta terça-feira (03) que na região a categoria não vai aderir à paralisação prevista para o dia 09. Segundo ele, não existe identificação com os interesses defendidos pelos grevistas.
“O que estão semeando pelas redes sociais é uma paralisação de caminhoneiros que querem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, mas essa não é a decisão da categoria representada pelos sindicatos. Isso é coisa de um grupo que atende a interesses políticos, que se juntou com alguns movimentos criados no início apenas para tumultuar e não para lutar por direitos. Nós paramos em fevereiro e março e de lá para cá muitas coisas boas aconteceram e outras reivindicações estão sendo discutidas, por isso não pretendemos paralisar, até por que isso traria mais prejuízos ao comércio e aos agricultores”, declarou.
O diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Cargas de Mato Grosso, Miguel Mendes, também afirma que os associados não vão aderir à paralisação. “Esse momento não representa os caminhoneiros. Eles estão com outros objetivos que não são os nossos, que é lutar pelo segmento de transportes. Quando a gente enxergou isso resolveu se manifestar contrário. Não contra a manifestação, mas contra a idoneidade dessas pessoas que estão à frente da manifestação. Eles querem a queda do governo”, diz Mendes.
Apesar das afirmações dos dirigentes, o presidente do Comando Nacional dos Transportes, Ivar Schmidt, não acredita em esvaziamento da greve e destaca que a pauta é também política, mas enfatiza os interesses do setor. “A pauta é política, mas diz respeito à categoria. Essa presidente que aí está deu declarações desprezando a categoria, dizendo que não precisava de caminhões. A categoria não vê a presidente com bons olhos de jeito nenhum. Há 8 meses nós entregamos a pauta e nenhum item foi cumprido adequadamente”, destaca.
Segundo Schmidt, mais de 5800 lideranças do setor já confirmaram adesão à greve e devem acontecer bloqueios nas rodovias a partir das 6h da manhã do dia 09. Segundo ele, já estão confirmadas paralisações em Minas Gerais, Goiás, Tocantins e regiões nordeste e sul.
Diversos sindicatos de autônomos se posicionam contrários à paralisação, como Fetrabens (São Paulo), Sinditac (Goiás) e Fetac (Minas Gerais).
Veja a notícia completa com os comunicados dessas entidades aqui.
Fonte: RBJ Notícias
Veja o comunicado da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA):
Diante de mais uma pretensa paralisação de caminhoneiros convocada por grupos de internet, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) comunica que:
1 – sempre manifestamos nosso apoio a movimentos de interesse específico da categoria dos caminhoneiros autônomos, organizados ou não, desde que haja representantes que respondam pelos atos que praticam;
2 – consideramos imoral e repudiamos qualquer mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país e pressionar o Governo em prol de interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da categoria;
3 – paralisações, greves e protestos são legítimos em um regime democrático, mas assim como acontece com outras categorias profissionais, as entidades sindicais que têm a prerrogativa legal de deflagrar uma greve, passam obrigatoriamente pela elaboração de uma pauta de reivindicação específica da categoria que representam, para ser aprovada em assembleia geral, que é quem tem, ao final, a legitimidade de deflagrar uma greve;
4 – Os caminhoneiros há muito vêm construindo a sua organização de representação sindical. Não podemos admitir agora que pessoas estranhas, sem histórico algum de representação da categoria, utilizem-se do respeito que o caminhoneiro conquistou junto à opinião pública pela força e importância que exercem na economia do país. Força essa reconhecida pelo governo sobre a necessidade de suas reivindicações serem discutidas mais abertamente;
5 – hoje podemos contar com o Fórum Permanente do Transporte Rodoviário de Cargas que foi criado para ser um canal aberto e direto do setor de transportes com a inovação de estar conjuntamente sendo representado por caminhoneiros autônomos, empresas de transporte de cargas, embarcadores e Governo;
6 – a CNTA se constitui hoje em seis federações e mais de cem sindicatos de caminhoneiros autônomos de todo o país. Por isso, respeitamos qualquer manifestação de interesse público de forma organizada. A rodovia é o escritório de trabalho dos caminhoneiros, assim como o mecânico tem a oficina, o bancário trabalha na agência. Portanto, o direito de manifestação e participação espontânea não deve ser confundido com a interrupção de rodovias obrigando a paralisação de quem precisa trabalhar ou não concorda com a manifestação;
7 – é importante registrar as graves consequências que um bloqueio de rodovias traz tanto para os transportadores que delas se utilizam, como para a sociedade em geral. É incalculável o prejuízo econômico, social e pessoal que esse tipo de atitude traz. Neste momento, consultada a categoria, ela manifesta sua necessidade de trabalhar e não de paralisar. Até porque a dificuldade econômica por que passamos, não é exclusividade dos transportadores rodoviários, e sim de todo o país;
7 – entendemos e reconhecemos a frustração tanto dos caminhoneiros como da população com a situação econômica do Brasil. No entanto, a CNTA acredita em uma guinada, a exemplo de outros países considerados potências econômicas, que também passaram recentemente por crise financeira, mas com a luta e apoio da população, de forma inteligente e organizada, viraram o jogo e estão novamente em crescimento;
8 – Ao consultar a sua base de representação, a CNTA e as entidades que a compõe, federações e sindicatos, optam pela defesa dos interesses dos caminhoneiros, por meio do diálogo e negociação com o Governo Federal e setor privado.
A CNTA alerta ainda que antes de qualquer pessoa se intitular uma liderança e promover uma paralisação nacional é preciso partir da premissa que uma crítica deve vir acompanhada de uma sugestão. Gritos de ordem incitando protestos podem conseguir apoio e simpatia, mas sem propostas concretas de nada adiantam.
Curitiba, 04 de novembro de 2015
Diumar Bueno - Presidente