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Prazer em ajudar - Oportunidade para o futuro

Enviado em 27 de Março, 2012

Estado de Minas - 27/03/2012

PRAZER EM AJUDAR
Oportunidade para o futuro

Contagem, na Grande Belo Horizonte, recebe projeto piloto do ViraVida, programa nacional de capacitação profissional e resgate de jovens em situação de risco social

Jornalista Cristiana Andrade

Publicação: 27/03/2012 Fonte: Estado de Minas

Motivar jovens em risco social e em situação de exploração sexual a mudar de caminho e se desenvolverem profissionalmente, resgatando a autoestima e seu potencial próprio, é um dos principais objetivos do projeto ViraVida, que acaba de chegar a Minas Gerais. Idealizado pelo presidente do Conselho Nacional do Serviço Nacional da Indústria (Sesi), Jair Meneguelli – que em férias no Nordeste ficou estarrecido ao se deparar com o forte cenário de exploração sexual de jovens –, o ViraVida está em seu quarto ano, com 2 mil participantes em 16 estados. No mês que vem, os trabalhos começam em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde 100 jovens serão atendidos.

Segundo a gerente de Desenvolvimento Social do Sesi-MG, Luciene Araújo, o município vizinho à capital foi escolhido depois de uma grande pesquisa e mapeamento dos pontos mais críticos de exploração sexual, principalmente nas regiões próximas à rodovia BR-040, sentido Brasília. O programa é uma parceria do Sistema S (formado por entidades da Federação das Indústrias, como Sesi e Senai; da Federação do Comércio, como Sesc e Senac; da Federação de Transportes, como Sest e Senat; e do Sebrae) com a rede de enfrentamento da violência e exploração sexual de crianças e adolescentes, formada por organizações não governamentais (ONGs), prefeituras e governos de estado – esses por meio de conselhos tutelares locais, Juizados da Infância e Juventude e programas públicos de acolhimento, abrigos, atendimento psicológico e de saúde para as vítimas.

“Sem esses atores o ViraVida não é possível. A integração do Sistema S para minimizar um problema nacional é importante, mas sem essa articulação nossa com a rede de enfrentamento não chegamos à sociedade de maneira eficaz. A Copa do Mundo está próxima e com ela a tendência de o turismo sexual aumentar. Por isso as ações e campanhas tendem a aumentar” diz Luciene.

No caso dos jovens de Contagem, a seleção foi feita via atores que já trabalham com o tema, como conselhos tutelares, centros de assistência social, casas de passagem, abrigos e ONGs. Eles têm idade entre 16 e 21 anos, vivem especialmente nos bairros Nacional, Ressaca e Petrolândia, e participarão do projeto entre um e dois anos. Cada um teve o perfil analisado por uma equipe técnica multidisciplinar formada por sociólogos, psicólogos e assistentes sociais, que avaliou o grau na educação, condição sociofamiliar etc. No caso daqueles que precisam ser reinseridos na educação regular, o programa oferece a vaga no curso normal ou na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), em parceria com escolas públicas.

“Nesse primeiro momento, vamos atender 100 jovens. Eles serão capacitados profissionalmente, terão cursos para qualificação, atendimento psicossocial, médico, odontológico e também atividades de lazer, esportes e cultura. Cada um recebe uma bolsa mensal de R$ 500, dos quais R$ 100 são depositados diretamente em uma espécie de poupança e o restante é para gastos pessoais”, explica a gerente do Sesi-MG. “A bolsa é uma forma de motivá-los a se engajar mais, a ter responsabilidade, a aprender a ter seu dinheiro. Além disso, muitos estão na situação de exploração sexual justamente porque a família é muito carente, sem recursos. Temos equipe para estimular essa motivação, mas nosso grande objetivo é desenvolver neles a automotivação, a vontade de superar desafios, encarar os obstáculos. Enfim, que eles aprendam a ver seu potencial. Plantamos a semente para que eles, depois, caminhem de forma autônoma”, acrescenta Luciene.

Os investimentos no ViraVida são feitos pelas entidades integrantes do Sistema S e o acompanhamento de cada menino e menina no programa é feito pela instituição que o encaminhou. Ela funciona como um ‘padrinho’ do jovem. Essa foi uma forma encontrada pela direção do projeto para avaliar a eficácia das ações e atividades propostas. Só assim é possível avaliar os índices de evasão, a desmotivação e por quais razões há jovens que se mantêm no ViraVida e outros não. Segundo Luciene Araújo, os dados nacionais indicam que 10% deles abandonam o programa. “A maioria deixa os trabalhos por falta de motivação própria ou familiar, dependência química ou por não estar acostumada à disciplina, às regras e sem ter vontade real de fazer a mudança de condutas. Mas não negamos uma segunda oportunidade. Há vários casos no Brasil de jovens que saíram do ViraVida e, quando demonstraram interesse de voltar, foram aceitos.”

EMPREGO Em Contagem, está sendo construída estrutura pelo Sesi especialmente para abrigar o programa. Ficará no Bairro Cinco. Ali, além de salas de atividades, os inseridos no ViraVida terão alimentação, recreação e transporte. Os cursos vão ser definidos de acordo com o perfil dos 100 participantes e a demanda da indústria local. Essa é uma forma de já capacitá-los para serem absorvidos pelo mercado de trabalho tão logo terminem o treinamento. Segundo Luciene, os índices de encaminhamento para emprego são elevados: 80%. Uma fórmula que, se bem executada, não tem como falhar.

Os cursos já implantados em 14 estados abrangem as áreas de moda, imagem pessoal, turismo e hospitalidade, gastronomia, comunicação digital, administração e química e apresentam carga horária que varia entre 700 e 950 horas-aulas, conforme a modalidade. Até 2011, o projeto teve 1.718 alunos matriculados, 766 alunos em sala de aula, 555 inseridos no mercado de trabalho e 188 participando de processos seletivos para vagas de emprego.